Vapes: mercado ilegal movimenta mais de R$ 5,8 milhões por dia em SP
Pesquisa realizada pela USP mostra que quase um milhão de pessoas fez uso de vapes no último mês no estado. Produto é ilegal no Brasil O mercado ilegal de cigarros eletrônicos, popularmente conhecidos como vapes, movimenta perto de…
Pesquisa realizada pela USP mostra que quase um milhão de pessoas fez uso de vapes no último mês no estado. Produto é ilegal no Brasil
O mercado ilegal de cigarros eletrônicos, popularmente conhecidos como vapes, movimenta perto de R$ 5,8 milhões por dia, ou R$ 2,12 bilhões por ano, no estado de São Paulo, segundo uma pesquisa da Escola de Segurança Multidimensional da Universidade de São Paulo (ESEM-USP). Apesar de proibidos no país, os produtos seguem em expansão e quase um milhão de pessoas consumiram vapes no último mês no estado.
Os números fazem parte do 1° Levantamento Nacional sobre a Demanda de Bens e Serviços Ilícitos, apresentado na quarta-feira (22/10) pela universidade. A pesquisa utilizou uma amostra por cotas de 3.000 entrevistados, que responderam um questionário sobre a noção da ilicitude, a frequência de compra, as motivações e os meios de adquirir os produtos. A margem de erro do levantamento é de 1,8%.
Vapes: pesquisa detalha número do consumo ilegal em São Paulo

Em uma simulação realizada pelos pesquisadores, considerando que o produto fosse legalmente comercializado, foi constatado que o estado de São Paulo deixaria de arrecadar mais de R$ 3 bilhões em impostos estaduais e federais por cigarros eletrônicos no ano. Os dispositivos são provenientes do Paraguai e vendidos ilegalmente por lojas físicas, vendedores ambulantes, sites e outros meios.
Para Leandro Piquet, coordenador da pesquisa e especialista em segurança pública e mercados ilícitos, o regime de proibição não elimina os produtos do mercado, mas transfere o controle ao crime organizado, que se beneficia de uma fonte lucrativa e estratégica de financiamento.
“O comércio ilícito de bens e serviços está sujeito a uma lógica econômica simples: se existe qualquer tipo de demanda, sempre haverá alguém, ou alguma organização, dedicada a atender essa demanda. O regime de proibição, em vez de eliminar os mercados de bens e serviços ilegais, acaba por transferi-los para a esfera do crime organizado, que se estrutura como agente econômico racional, em busca de lucro, controle territorial e corrupção sistêmica”, conta Piquet.
O que torna o vape tão perigoso?
Apesar de ser vendido como uma alternativa “menos nociva” ao cigarro tradicional, o cigarro eletrônico não é inofensivo. Os riscos aumentam de acordo com o tempo de uso, a frequência das tragadas e a composição dos líquidos vaporizados — muitos deles não regulamentados e com fórmulas desconhecidas. Entre os ingredientes, o diacetil aparece como um dos principais vilões.
Estudos mais recentes apontam para um número crescente de problemas de saúde entre jovens usuários de vape. O fator preocupante é que doenças podem se desenvolver de forma silenciosa, sem sinais evidentes nos estágios iniciais.
Um dos perigos mais graves ligados ao uso frequente dos vapes é a bronquiolite obliterante — uma doença inflamatória grave, progressiva e sem cura, que atinge as vias aéreas mais finas dos pulmões. Conhecida como “pulmão de pipoca”, a condição compromete severamente a respiração e pode deixar sequelas irreversíveis.
Essa doença ganhou notoriedade no início dos anos 2000, após casos entre trabalhadores de fábricas de pipoca para micro-ondas expostos ao diacetil — um aromatizante artificial de sabor amanteigado. O composto, banido de vários produtos alimentícios nos EUA, voltou ao centro das atenções por estar presente em muitos líquidos usados nos vapes.
Cenário nacional
No âmbito nacional, o estudo estima que um em cada 21 brasileiros tenha usado vapes ou sachês de nicotina nos últimos três meses — cerca de dez milhões de pessoas. O material também detalha dados sobre o perfil e as motivações dos consumidores.
Entre as razões para o consumo, destacam-se os 29,49% dos entrevistados que fazem uso por curiosidade e os 10,71% que consomem por influência de amigos/conhecidos. O mercado ilegal desses produtos movimenta R$ 7,81 bilhões por ano no país e não gera nenhum recolhimento de tributos. Em uma simulação, o setor poderia render R$ 13,7 bilhões anuais aos cofres públicos se fosse regulamentado.